Viver hoje, para a maioria das
pessoas, é muito dificil. A correria do dia-a-dia, pressões no trabalho, problemas
financeiros, emocionais, sentimentais, perdas, medos, tudo isso nos faz em
algum momento sair do nosso equilíbrio.
Vivemos também numa época em que
é proibido ficar triste. Em tempos de fotos constantes e aparições em redes
sociais, ninguém quer posar na vibe triste. O negócio é sorrir e estar de bem
com vida 100% do tempo. Poucos querem
entrar em contato com a sua dor, a sua verdade, as suas proprias mazelas, sua
propria escuridão. E ai entram os remedinhos: calmantes, ansiolíticos,
antidepressivos – fluoxetina, olcadil...rivotril, sao apenas alguns dos
medicamentos comumente receitados.
Rivotril é o benzodiazepínico
mais vendido do Brasil. É o segundo remédio mais vendido no pais, atrás apenas
de medicamentos anticoncepcionais. Conseguir sua receita é relativamente facil. Você vai a um
medico e relata um quadro de stress, ou uma dificuldade específica, momentânea
ou não, e você provavelmente vai sair do consultório com uma receita dele ou
outro qualquer.
Tem algo de errado nisso? A
princípio, NAO. Só é preciso ter em mente que esses medicamentos podem causar
dependencia. E saber a hora de parar.
Sempre tive dificuldades para ter
uma noite de sono tranquila. Me lembro de ainda adolescente, passar noites em
claro arrumando armario, lendo, pq o sono nao vinha. Tenho uma mente inquieta, queria ter vindo com um botao de DESLIGA! Até entao me virava com suco de maracujá, chas calmantes..nem sempre
funcionava.
Minha historia com o rivotril
comecou em 2007. Fiquei 25 dias internada, com meningite viral. Nunca havia me
internado, e menos ainda para ficar tanto tempo no hospital. Ansiosa com a
situação, preocupada com o que viria depois (e o meu emprego?) não conseguia
dormir no hospital. Depois de uns dias, um médico colocou no meu prontuário:
RIVOTRIL – 5 GOTAS A NOITE.
Tomei muito receosa – sei que o
remedio é tarja preta e sempre tive pavor da dependencia que ele poderia
causar. Mas naquela noite, depois das 5 gotas..eu APAGUEI. Dormi como um bebê.
Acordava com a pressao alta no hospital..nessa manhã acordei com a pressão
normal.
Tomei o remedio por todo o
periodo que passei no hospital. E ao sair de lá, consultei um neurologista que recomendou
a continuação do uso – na dose recomendada: 5 GOTAS, que equivalem a 0,0625mg.
Essa foi a minha dosagem durante todo o periodo em que usei o rivotril.
Houve noites que mesmo com as 5
gotas, eu nao dormi. Paciência. Aumentar a dosagem por conta própria é o
caminho certo para entrar num ciclo de dependencia. . Jamais tomei uma gota a
mais que isso. RIVOTRIL NAO É CHAZINHO!
Houve momentos em que eu fiz o
desmame e interrompi o uso do remedio, por breves periodos. Mas voltei ao
medico e ja nem esperava o medico pedir. Eu mesmo pedia: quero tomar rivotril
por isso , isso e isso. E obtinha a receita. De novo, as 5 gotas.
Mas nao adianta viver a base de
remédios e nao resolver os problemas néam? E ao longo do tempo fui tomando
medidas pra resolver as questões que me desestabilizavam emocionalmente.
Por muitas vezes eu expressei meu
incomodo em tomar remédio tarja preta por tanto tempo. Mas nao me sentia capaz
de viver sem ele. A dependencia emocional de um medicamento como esse, as vezes
pode ser maior do que a química. E ouvi de mais de um médico..”As vezes a gente
precisa aceitar que vai precisar do remédio pro RESTO DA VIDA..” Mas nunca
concordei com isso. Nasci sem ele portanto ia um dia aprender a viver SEM ele.
O tempo foi passando, e esse ano
ocorreu algumas vezes de eu pegar no sono SEM TER TOMADO O REMÉDIO. Oi? Então
estou dormindo sozinha? Talvez seja hora de parar de tomar o medicamento.
Levei algumas semanas ainda para
tomar coragem e parar. Mas o vidro estava acabando e sempre tinha uma receita
já a postos para comprar o proximo. Dessa vez eu nao tinha. E nao fui buscar.
Fui fazendo o desmame , reduzindo a quantidade, tomando em dias alternados..até
que um dia o remedio acabou e eu tive de dormir sem ele.Importante dizer que esse "desmame" foi feito com ciencia do médico!!!
Nao foi facil. A primeira semana
foi O CAOS. Dormi pouco, dormi mal, nao dormi. Mas estava decidida a nao usá-lo
mais. Para ajudar, fui a uma loja de produtos naturais e comprei varias ervas
calmantes (mulungu, passiflora, camomila, erva cidreira), misturei todas e
passei a fazer um chá com elas, toda noite e tomar uma xicara morna antes de
dormir.
Até que..DORMI! Uma noite
inteira. E outra, e outra...e desde o dia 04 de abril, tenho vivido sem o
rivotril. Estou livre dele!
E não apenas o sono. O remedio ajuda muito a estabilizar o humor. É um belo filtro pro dia-a-dia. Agora eu to sem filtro. E preciso (voltar a) lidar comigo mesma, com minha ansiedade, e minhas mazelas. Mas tem sido um bom exercício.
Falando por mim: Ele foi absolutamente
necessário em uma determinada época da minha vida. Vivi momentos de stress
intenso e sem um medicamento, eu poderia ter tido um piripaque. Mas 8 anos
depois, notei que a situação inicial tinha mudado, e que eu podia tentar viver
sem ele. Tentei e estou conseguindo. Espero continuar assim por tempo
indeterminado. Mas se precisar novamente, nao vou hesitar em procurar ajuda
medicamentosa.
Decidi contar minha historia com
o rivotril, primeiro pra desmistificar o
remédio porque existe muito pré-conceito em torno dele. E espero que possa
servir de ajuda para alguém.
- Se você precisa de ajuda, BUSQUE.
- JAMAIS tome um medicamento sem receita médica.
- Se receitarem um medicamento , TOME.
- Siga rigorosamente as orientacoes medicas.
- NUNCA altere a dose do remédio por conta propria!
- Se acha que pode ser o momento de rever o uso do remédio, converse com seu médico ANTES e estude a melhor maneira de parar.
- E acima de tudo, aprenda a se conhecer, a lidar consigo
mesma e entender que o remedio é apenas um auxilio.
Remédio nao serve pra
empurrar a vida. Serve para a gente segurar a onda enquanto RESOLVE os
problemas da vida.
E com o tempo, pode ser que você possa dar adeus a ele.Como eu dei!
Abracos!
