Uma história sobre o valor das coisas

Em algum dia de 1999, fui demitida do meu primeiro emprego, depois de quase 6 anos na mesma empresa . Tinha entao 27 anos.

Recebi minha primeira rescisão na vida. Na época, uns R$ 10.000,00. Nunca tinha visto tanto dinheiro na vida! Usando o salario minimo como parâmetro – naquela época o salario minimo era R$ 136,00. Recebi portanto, 73 salarios minimos de uma vez . Seria como receber hj, 58 mil reais.  Uma grana considerável.

Na época morava com meus pais e nao tinha nenhuma responsabilidade financeira a não ser pagar minhas proprias contas. Entao nao tinha nenhum plano do que fazer com esse dinheiro. 

Mas tinha um objeto de desejo: vinha namorando uma bolsa da grife Victor Hugo. Trabalhava proximo da loja e passava la todo dia, durante meses, pra paquerar um modelo especifico que estava na moda, na época. Mas nao ganhava o suficiente para tê-la, essa eh a verdade. Rs Bom, mas ai veio a rescisao e eu nao tinha nenhuma ideia do que fazer com o dinheiro, so uma certeza – ia comprar a bolsa!



Sai da Caixa Economica Federal direto para a Loja, que era uma quadra depois. Entrei lá e fui solenemente ignorada pelas vendedoras (porque né? Preta na loja, é só pra ver, nunca pra comprar). Até que uma dita cuja resolveu me atender. E eu disse, quero ver aquele modelo ali. Ela pegou e me mostrou,  Fez o merchan da bolsa (nem precisava,eu tava decidida). E falou do preço (que nunca esqueci) – R$ 274,00. O salário minimo da época era R$ 136,00, entao a bolsa custou 2 salários minimos – ou R$ 1576,00 se fosse nos dias de hoje. Ela foi, e em termos comparativos ainda é, o item de moda mais cara que eu já comprei na vida. 

A vendedora fez o papel dela e disse: voce pode parcelar em até x vezes no cartao, no cheque..mas eu disse, não, vou comprar A VISTA. E saquei meu vistoso cartão bancário e comprei a bolsa.  Quase tive orgasmos multiplos nesse momento kkkkkkkkkkkkk

E sai vistosa com minha bolsa de grife. Me senti GENTE. Me senti parte de um grupo diferenciado, entende? Com 27 anos e desempregada eu tava usando uma das marcas mais caras daquele momento e MISINTINU. Bom, nao demorei muito a arrumar emprego e a bolsa era um cartão de apresentações. Falava por mim – a ponto de uma vez, ao ser apresentada a um determinado cidadão, ele olhar pra mim e pra uma colega que tinha uma mochila da mesma marca, ele falar VOCÊS SAO UMAS NEGRAS CARAS NÉ? Ao que respondi: Sou sim, mas eu banco os meus luxos (outro orgasmo!kkk)

Enfim..e andei com essa bolsa por anos. Mas com o tempo, e como acontece com tudo o que a gente tem, ENJOEI dela. E comprei outras, bem mais baratas, para substitui-la. Até que  9 ANOS DEPOIS, eu nao aguentava mais ver a dita cuja, e doei para uma conhecida.


Ah, sim: TORREI todo o dinheiro da rescisao com roupas, CDs, sapatos, bolsas, happy hours...nao guardei um unico centavo. Menos de 1 ano depois minha vida mudou, eu estava morando sozinha e descobri que com aquela grana eu quase poderia ter dado entrada num imovel, por exemplo. Lamentei isso por um tempo, mas enfim, tudo me serviu de aprendizado.


Poucos sao os que tem acesso a educacao financeira. EU NAO TIVE e so fui aprender com meus proprios erros e acertos. Alem de nao termos ensinados a pensar a longo prazo, somos bombardeados 24hs por dia com estimulos de compra. Somos levados a pensar que ter esse ou aquele produto nos eleva a outra categoria de ser humano, nos torna diferenciados. Isso explica porque vemos pessoas,  muitas vezes com poder aquisitivo baixo, comprarem itens de consumo carissimos. Todos acreditam que esses itens os tornam especiais aos olhos dos outros. 

Veja bem, nao há NADA DE ERRADO em querer usar uma grife, ou realizar o desejo de comprar um item desejado. E nao me arrependi de ter comprado a bolsa, fui feliz com ela.rsrsrs  A questão é – só tenha em mente que esse encantamento com o produto dura pouco. E é assim que mesmo que é planejado pra ser, senão a gente ficaria feliz com um  item e nao voltaria mais a comprar!

Eu aprendi que no fim das contas, depois de um tempo, a bolsa de R$ 1,000,00 vai ter o mesmo valor da bolsa de R$ 49,00. Vou usar o que combinar, o que estiver a fim. E o preço dela , depois de um tempo, pouco vai influenciar na escolha. E por ter aprendido isso sobre MIM (ninguém precisa pensar igual, ok?) Eu hoje faço minhas escolhas baseadas em outros parâmetros que nao a marca. Vejo o modelo, caimento, qualidade do material...e nao importa de onde vem, se me agrada, eu compro. As grifes deixaram de ter aquele encantamento sobre mim – Mas uma liquidação não deixo de visitar não! Rs

Nossos recursos sao limitados, e quanto mais aprendermos a compreender o real valor das coisas e consumir de forma que nosso dinheiro possa render ao máximo, melhor. Essa foi só uma das formas de aprender a usar melhor meu dinheiro. E se hoje eu recebesse um valor desse, certamente teria outros destinos para ele! 


E você, o que a sua vivencia com finanças te ensinou ao longo do tempo?

Deixe um comentário